Como age o cérebro em
situações urgentes
Por Dr.Leandro Teles especialista em doenças do distúrbios neurológico
O cérebro humano é dotado de incríveis capacidades
emocionais e cognitivas, isso é fato e todo mundo sabe. Agora, você sabia que
existe um sistema de funcionamento específico para situações emergenciais?
Um sistema que evoluiu em milhares de ano para nos tirar de situações de risco
iminente de vida. Atualmente, esse sistema é ativado em situações de
violência urbana, acidentes de qualquer natureza, eventos naturais, sustos
intensos ou mesmo fora de hora, em pessoas ansiosas e muito estressadas.
Em situações agudas, aonde a tomada de decisão
precisa ser rápida e o recrutamento muscular quase imediato, a natureza
prioriza algumas funções e reduz nossa capacidade em outras. Existem evidentes
mudanças no CORPO e no CÉREBRO para esse momento chamado de “Luta ou Fuga”. Boa
parte dessas alterações são ocasionadas pela adrenalina (liberada no sangue
pelas glândulas adrenais) e pelo cortisol (outro hormônio do estresse).
Além disso ocorre ativação de todo um sistema
coordenado de nervos chamado SISTEMA SIMPÁTICO. Vamos às alterações.
NO CORPO
Aumento na Frequência Cardíaca e da Pressão
Arterial: Providencial, com isso temos um ganho de performance motora e o
sangue chega com mais rapidez aos órgãos nobres
Pupilas Dilatadas: isso aumenta nossa visão do
todo, de modo a procurarmos uma saída, visualizarmos um ataque, etc. No
entanto, com as pupilas dilatadas percebemos menos os detalhes
Direcionamento de Sangue para os
músculos: nada mais justo. Precisamos de força e velocidade para resolver
a situação. A ativação muscular intensa pode levar a espasmos e sobressaltos,
como em um susto. A contração é mais intensa e mais grosseira, ficamos menos
aptos a atividades delicadas e que exijam muita destreza. Tremores podem
aparecer nessas situações.
Interrupção das funções intestinais, urinárias e
sexuais: são funções basais de segundo plano. Em situações urgentes o
corpo opta por reduzir muito o funcionamento delas, para evitar gasto
energéticos e empecilhos na solução do dilema emergente.
Outras alterações:
Pelos eriçados (provavelmente herança de grandes
primatas que pareciam maiores com seus pelos eriçados);
Pele mais pálida e fria (por desvio de sangue para
a musculatura)
Sudorese (devido à intensa ativação das glândulas
sudoríparas para dissipar o calor produzido pela ativação vascular e muscular).
MUDANÇAS CEREBRAIS
Como o CORPO, o cérebro também mostra modificações
funcionais evidentes durante umas situações extremas. A saber:
ATIVAÇÃO de SISTEMAS INSTINTIVOS: o cérebro
cobrado por decisões urgentes opta por ATIVAS regiões profundas e antigas como
a AMÍGDALA, giro do cínguro, hipotálamo, entre outras. Isso gera respostas
padronizadas de sobrevivência. Geralmente são condutas extremas, emocionais e
nem sempre justificáveis pelo senso comum.
Redução da Percepção Fina: O cérebro trabalha
com variáveis, percepções do ambiente externo e interno (pensamentos e
sensações). Em situações extrema a percepção geral é reduzida, percebemos o
todo, o grosseiro, ficamos com poucos variáveis na consciência. Quem nunca
ouviu de alguém que passou por uma situação limite que ficou cego de raiva, ou
que não ouviu nada ou não percebeu determinado detalhe. O cérebro na urgência
trabalha de forma geral e reflexa, sem grandes análises.
Redução do funcionamento do Raciocínio
Analítico: os lobos frontais são a sede do raciocínio lógico e analítico.
São a maior diferença evolutiva entre o homem e os ditos animais inferiores. Em
situações extremas seu funcionamento é reduzido, não é permitido “titubear”,
analisar hipóteses, buscar a análise minuciosa e prospectiva dos efeitos da
ação a médio e longo prazo. O que nos faz diferenciado é desligado quanto mais
urgente a situação que vivemos, ou pensamos que vivemos.
Todas essas mudanças criam um ambiente POTENCIAL de
erros, tanto de julgamento, como de conduta. Por isso é fundamental ter clareza
da ocorrência de uma situação limite, para não acionar o sistema FORA DE HORA.
Além de ter clareza de como conduzir as principais situações extrema do
dia-a-dia atual, para não acabar se arrependendo amargamente de condutas
inadequadas em situações de risco iminente.
Essas situações limites não nos mais inteligentes,
mais resolutivos, e sim mais rápidos e buscando livrar a própria pele. Pessoas
emocionalmente mais instáveis acabam por ter um limiar MAIS BAIXO na ativação
desse sistema. Isso ocorre também com pessoas em fases mais estressadas e
ansiosas. Gerando má adaptação social, tomada equivocada de decisões e erros
não forçados.
POR ISSO, O RECOMENDADO É:
Manter controlado o nível de estresse crônico,
assim como a ansiedade.
Aprender a lidar com situações estressantes com
relativa tranquilidade, dando tempo para o cérebro processar a informação e
agir mediante o raciocínio mais complexo. (Limiar alto para o descompensação).
Prever situações limite e padronizar a respostas,
exemplos: Nunca reagir a assaltos / Nunca acessar o elevador em um incêndio /
Não pular pela janela sem orientação / Nunca partir para agressão física no
transito / etc.
Reconheça pequenos sinais do corpo e do ambiente de
que algo pode sair do controle
O Neurologista Leandro Teles é especialista em
doenças e distúrbios neurológicos e atende em consultório particular em
Perdizes, São Paulo/SP.