segunda-feira, 28 de março de 2011

Durmeval Bartolomeu Trigueiro Mendes -

Durmeval Bartolomeu Trigueiro Mendes nasceu em 9 de fevereiro de 1927 em Cuiabá, para onde fora transferido seu pai, funcionário do Banco do Brasil. Mas não chegou a conhecer essa cidade: quando tinha dois meses de idade, a família retornou à Paraíba. Durmeval às vezes referia-se ao capricho da sorte que fez com que, durante sua vida pública, viajasse conhecendo todos os Estados do Brasil, com exceção de Mato Grosso. Por duas vezes esteve para ir lá, a convite de sua Universidade, mas ambas as viagens foram canceladas por motivos alheios à sua vontade. Na Paraíba passou toda a infância e adolescência e iniciou sua carreira no magistério e na administração educacional.

         Aos 12 anos entrou para o Seminário Arquidiocesano de João Pessoa, aí realizando o curso secundário e o curso de Filosofia. Para poder lecionar no nível médio, ao deixar o Seminário fez o curso de Letras Clássicas na Universidade Católica de Pernambuco.

          Em 1951, quando tinha 24 anos, foi nomeado Secretário da Prefeitura de Campina Grande; em 1952 exerceu o cargo de Diretor do Departamento de Educação do Estado da Paraíba e começou a lecionar no magistério superior como professor titular de Sociologia da Educação. Paralelamente, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, onde colou grau de bacharel em 1954. Neste mesmo ano o governador José Américo de Almeida o nomeou como titular da Secretaria de Estado de Educação e Cultura, cargo que continuou exercendo na administração seguinte, do governador Flávio Ribeiro Coutinho.

1954 - Inauguração de
grupo escolar na Paraíba
        

          Ainda em 1954, mediante concurso público, foi admitido na função de Inspetor de Ensino do MEC e encarregado, pelo governador José Américo, de organizar a Universidade Estadual da Paraíba. Com a criação da Universidade, em 2 de dezembro de 1955, foi escolhido pelo Conselho Universitário como seu primeiro Reitor, cargo que exerceu juntamente com o de Secretário de Estado de Educação até dezembro de 1956.

          A convite dos governos da França e da Alemanha, realizou em 1957 viagem de um ano à Europa, onde observou os sistemas educacionais desses dois países, visitando também diversas universidades inglesas. Durante sua estada em Paris recebeu carta de Anísio Teixeira, Diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), convidando-o para o cargo de Supervisor da Campanha de Educação Complementar. Foi no Rio de Janeiro, a partir de 1958, que centrou suas atividades profissionais como educador, pesquisador, conferencista, administrador e consultor junto a empresas de planejamento educacional. Desde o primeiro ano na capital federal reintegrou-se no magistério superior, lecionando Filosofia da Educação no Curso de Pedagogia da PUC/RJ. Em 1960 foi designado para integrar o Conselho Consultivo da CAPES - Campanha Nacional de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior.
    1961- Nomeação para a Diretoria do Ensino Superior do MEC. Da esquerda para a direita: Anísio Teixeira, Presidente João Goulart, Ministro Antônio Britto e Durmeval.
         Por indicação de Anísio Teixeira ao Ministro Antônio Oliveira Britto, em 1961, foi nomeado Diretor do Ensino Superior do MEC, cargo que exerceu até 1964, num período bastante conturbado, como demonstra o fato de, durante sua gestão, terem passado pelo Ministério da Educação oito Ministros de Estado. Ainda em 1961 terminava a longa discussão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e era criado o Conselho Federal de Educação. Por convocação do Ministro Oliveira Britto, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Durmeval Trigueiro selecionaram os nomes que comporiam o Conselho recém-instituído, que se caracterizaria pelas posições doutrinárias diferentes, e até antagônicas, de seus membros. Começava a explosão desordenada do ensino superior brasileiro, a criação de faculdades muitas vezes atendendo a interesses políticos locais ou a um incipiente empresariado escolar mais atento aos lucros que à mobilização cultural, ao ensino e à pesquisa. À frente da Diretoria do Ensino Superior e da COSUPI - Comissão Supervisora do Plano de Institutos, que acabava de ser reestruturada e vinculada à Diretoria, Durmeval procurava, com a análise cuidadosa de cada proposta de surgimento de novas escolas, conter as influências clientelistas e colocar um mínimo de racionalidade na expansão do ensino superior.
     
1962 - Discurso de abertura do Congresso Internacional de Universidades Populares, em Buenos Aires.

          Integrando a delegação brasileira, proferiu em 1962 a conferência de abertura do Congresso Internacional de Universidades Populares, realizado em Buenos Aires. No ano seguinte, também em Buenos Aires, representou o MEC na elaboração do Acordo Cultural que seria celebrado entre o Brasil e a Argentina.

          Em 1964, pouco antes do golpe militar, foi designado para o Conselho Federal de Educação. Continuou a sustentar idéias contrárias às posições oficiais, quando as percebia eivadas de falácias ou de distorções da problemática educacional brasileira. Difundiu essas idéias em pareceres normativos e doutrinários, comunicações e seminários do Conselho; em conferências e aulas inaugurais que proferiu por todo o País; em artigos e ensaios publicados principalmente na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos e na Revista de Cultura Vozes; nas cadeiras de História do Pensamento Econômico e de Sociologia, que assumiu na Universidade do Estado da Guanabara desde 1965, e como professor titular de Fundamentos Sociológicos da Educação, a partir de sua transferência da Universidade Federal da Paraíba, em 1968, para a Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

          Casou-se em 1965 com Maria Márcia de Barros Lima. Tiveram dois filhos: André, nascido em 1966, e Daniel, nascido em 1968.
          Foi Coordenador da Comissão INEP / UNESCO, instituída em 1966 no âmbito do Ministério da Educação com o nome de CEOSE - Colóquios Estaduais sobre a Organização dos Sistemas Educacionais, que, durante três anos, prestou cooperação técnica em matéria de planejamento, organização e reestruturação dos sistemas educacionais de 14 Estados brasileiros. Ainda neste ano, foi eleito membro do Conselho Diretor da Associação Brasileira de Educação.
1967 - Reunião do Conselho Federal de Educação: Durmeval entre os Conselheiros Anísio Teixeira e Raymundo Moniz de Aragão.
         Em 1967 integrou a Comissão de Especialistas que, sob os auspícios da UFRJ, elaborou o plano de estruturação da Faculdade de Educação, concluído em 1969.

         Novamente a convite dos governos da França e da Alemanha, em 1968 voltou a visitar diversas universidades nos dois países. Designado perito da UNESCO, retornou logo depois à Europa para participar, como representante da América Latina num grupo de dez especialistas, da reunião promovida pela UNESCO em Moscou com a finalidade de discutir a comparabilidade e equivalência internacional dos estudos secundários e dos diplomas e graus universitários. Foi também indicado Presidente do Instituto Brasileiro de Filosofia, seção Guanabara, no biênio 1968/69.

         Em 1969, integrou a Equipe de Levantamentos e Diagósticos do Serviço de Assistência Técnica do INEP. Coordenou o Curso de Planejamento Educacional realizado pela Universidade do Estado da Guanabara em nível de pós-graduação e participou do Grupo de Trabalho encarregado de elaborar um plano de reestruturação desta Universidade. Foi Relator-Geral da IV Conferência Nacional de Educação, realizada em São Paulo. No Conselho Federal de Educação, continuava a ser, com freqüência, voto vencido, mas considerava que uma de suas funções era exatamente analisar, propor, resistir. Em 28 de agosto, foi informado pela televisão de sua aposentadoria imposta pelo AI-5.

Foi na PUC / RJ que retomou, em 1970, suas atividades de magistério, como professor adjunto do Departamento de Educação e coordenador da área de Planejamento Educacional no Curso de Mestrado em Educação. No ano seguinte foi designado assessor técnico da Fundação Getúlio Vargas e incumbido de elaborar o arcabouço do Instituto de Estudos Avançados em Educação - IESAE, inaugurado em 1971. Neste mesmo ano, elaborou o projeto de estruturação dos cursos de pós-graduação do Departamento de Ciências Sociais da PUC/RJ e integrou a equipe da Enciclopédia Mirador Internacional, na parte de Filosofia.
No início de 1972, aos 45 anos, sofreu derrame cerebral seguido de afasia, cujas seqüelas o obrigaram a uma batalha cotidiana para continuar produzindo, lutando, vivendo.
Dois anos depois, voltou a lecionar na PUC / RJ, foi designado professor titular de Filosofia da Educação e Filosofia da Educação Brasileira no Curso de Mestrado em Educação do IESAE e trabalhou como consultor do INEP na organização do Thesaurus Brasileiro de Educação. As dificuldades que encontrava para dirigir-se aos alunos, para acompanhar um debate, para escrever suas idéias, iam sendo contornadas pelo persistente trabalho de terapia da palavra, pela constante e carinhosa assistência de amigos e colegas e pela designação de professores assistentes, providências que o auxiliaram a cumprir seus compromissos profissionais. A partir de 1974 integrou o Conselho Coordenador do IESAE e, desde 1977, o Conselho Editorial da Revista Fórum Educacional. Em 1977 coordenou o projeto de pesquisa "Filosofia da Educação Brasileira", com apoio do INEP e a participação de professores do IESAE, da PUC / SP e da USP. O relatório final da pesquisa, concluída em 1979, foi publicado em 1983 pela Editora Civilização Brasileira e teve em 1998 a sua 6ª edição. 
Em conseqüência da Lei da Anistia, reassumiu, em 1980, as funções de professor titular da UFRJ, na Faculdade de Educação, e de Técnico em Assuntos Educacionais do MEC. Em 1985 presidiu a comissão julgadora do Prêmio Grandes Educadores Brasileiros, instituído pelo INEP. No ano seguinte foi designado assessor da Sub-Reitoria de Ensino de Graduação e Corpo Discente da UFRJ. 
Em 1987, trabalhava no Doutorado em Educação da UFRJ na elaboração de um projeto de pesquisa sobre "O saber e o poder na cultura e na educação", e continuava seu trabalho docente no IESAE e na PUC / RJ. Faleceu no dia 9 de dezembro, vitimado por um acidente de tráfego na Praia de Botafogo, Rio de Janeiro.
Durmeval Trigueiro Mendes recebeu, em homenagem póstuma, os títulos de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba, em junho de 1988, e de Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em novembro do mesmo ano.
Fonte:
"O Autor". In: Durmeval Trigueiro Mendes - filosofia política da educação brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Universitária José Bonifácio / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1990, p. 193-199.

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