quinta-feira, 21 de abril de 2011

INFLUENCIA DO INDIO NA MEDICINA CASEIRA

É evidente, no entanto, que os brasileiros incorporaram técnicas indígenas de cura, aliando-as as mesmas concepções cosmológicas que tinham os europeus. É a representação – o significado de doença – que aqui é reinterpretado na mistura das etnias. "A medicina e a magia primitiva não conhecem nenhuma distinção entre malefício e moléstia. Assim, por exemplo, a mesma reza que serve para aliviar uma parturiente poderá resguardar um individuo de qualquer acidente funesto, preservá-lo do mau-olhado ou imunizá-lo contra a infecção do ar ruim. Nos antigos documentos paulistanos, a própria palavra "doença" deve ser constantemente entendida nesse seu sentido genérico, que envolve todo acidente suscetível de provocar dor física." (Buarque de Holanda, 1956)
Esta noção está presente ainda hoje, em cultos de umbanda e outras religiões populares, que se utilizam de ervas não só para curar o corpo, mas também para livrá-lo de influências maléficas capazes de provocar dor. Aqui, mais do que a mestiçagem cultural, as diferentes concepções de mundo se cruzaram para criar um novo conhecimento popular. "Não faltam, finalmente, aspectos de nossa medicina rústica e caseira que dificilmente se poderiam filiar, seja a tradições européias, seja a hábitos indígenas. Aspectos surgidos mais provavelmente das próprias circunstâncias que presidiram ao amálgama desses hábitos e tradições. A soma de elementos tão díspares gerou muitas vezes produtos imprevistos e que em vão procuraríamos na cultura dos invasores ou na dos vários grupos indígenas. Tão extensa e complexa foi a reunião desses elementos, que a rigor não se poderá dizer de nenhum dos aspectos da arte de curar, tal como a praticam ainda hoje, os sertanejos, que é puramente indígena ou puramente europeu:’
A interação entre crendices importadas e práticas indígenas sofreu várias tentativas de enquadramento tanto por parte dos jesuítas que pretendiam o monopólio da arte de curar, como do saber erudito e oficial, que as proibia como ilegais. Na povoação de São Paulo, por exemplo, a Companhia de Jesus atendia os moradores em caso de moléstias. Quando começaram a aparecer curandeiros, foi criada uma lei municipal para coibi-los. "Para evitar esses abusos representados pelas atividades dos curandeiros – a que se entregavam índios, mamelucos e até buavas – o poder municipal criou em 1579 o cargo de juiz-de-oticio dos físicos, que coube ao barbeiro António Rodrigues, "homem experimentado e examinado." Depois disso ninguém mais podia legalmente curar qualquer pessoa sem licença ou carta de examinação passada por êle

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