sábado, 16 de abril de 2011

Policial-cantor anima presos e prepara CD com "melhores do brega"


Após 28 anos de corporação, alguns deles entoando clássicos como "Fogo e Paixão" na delegacia, Wandick Pessoa prepara seu 1º CD

Thiago Guimarães, iG Bahia | 13/04/2011 16:48
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Sai de mim / Já tenho outro alguém que estou gostando / e que está a fim / Quando te encontrei com o bombeiro na nossa cama / que eu jurei nunca mais te querer / e de tristeza quase morri”, diz uma de suas canções
Um policial civil que faz as vezes de cantor brega nas horas de folga é sucesso entre presos da delegacia de Itinga, bairro da periferia de Salvador.
“Canta uma música aí”, dizem os detentos, enquanto  passa servindo café ou o almoço do dia. A depender da inspiração do policial, a resposta vem em clássicos como “Fogo e Paixão”, de Wando, ou “Garçom”, de Reginaldo Rossi.
Aos 57 anos, Pessoa diz conhecer a maioria dos presos de Itinga, bairro em que vive desde criança. “Eles gostam de mim. Falta água na delegacia e pego em casa para beberem”, afirma.
E após 28 anos de corporação, o policial civil de voz de barítono se prepara para assumir de vez o lado “Wandick Pessoa, o romântico”, seu nome artístico. Após uma licença-prêmio de seis meses neste semestre, entrará com pedido de aposentadoria.

Foto: Thiago Guimarães/iG
Wandick Pessoa - policial civil, cantor e romântico -, durante um dos seus ensaios: "Canta uma ai", pedem os presos
“Já fiz o que tinha que fazer na polícia, até parto já fiz”, diz Wandick. O cantor afirma já ter se envolvido em tiroteios, dos quais diz não ter saído ferido nem matado alguém.
A artilharia do agente Wandick agora é vocal. Em um estúdio no bairro de Itapuã, a banda do policial ensaia para show do próximo dia 30. No repertório, clássicos do brega e da Jovem Guarda, além de composições do próprio Wandick, como “Sai de Mim (Melô do Bombeiro)”.
“Sai de mim / Já tenho outro alguém que estou gostando / e que está a fim / Quando te encontrei com o bombeiro na nossa cama / que eu jurei nunca mais te querer / e de tristeza quase morri”, é um trecho da música de Wandick e Durval Caldas, irmão de Luiz Caldas, pioneiro da axé music.

Foto: Thiago Guimarães/iG Ampliar
Capa do CD de Wandick Pessoa: capa teve uma "limpadinha do computador"
De bermuda de surfista e bota de escalada, o policial se empenha nos ensaios. Faz caras e bocas e até treina uma jogada de charme ao chamar um case de guitarra de “morena linda e maravilhosa”. Dedica outra canção própria, “Paizão”, ao pai do repórter. A banda, completa, tem guitarra, teclado, baixo, bateria e vocal de apoio.
Nos shows, Wandick faz várias trocas de figurino, para combinar camisas com sapatos verdes, vermelhos e azuis. O cuidado com a aparência valeu até matrícula recente em academia. Mas reconhece, aos risos, que a foto na capa do CD “Inéditas Volume 1” teve uma “limpadinha do computador”.
Animado com a repercussão de sua cantoria, Wandick lamenta que o chefe não tenha autorizado a realização da reportagem na delegacia – o delegado Jacinto Correia disse ao iG que o policial está de licença e não teria como justificar sua presença na unidade. “Ele bem que podia ter pedido autorização ao secretário de Segurança, não é?”, questiona, ao se despedir do repórter e continuar afinando o cancioneiro brega.

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