Desde
a década de 70 a humanidade vem tomando consciência de que existe uma crise
ambiental planetária. Não se trata apenas de poluição de áreas isoladas, mas de
uma real ameaça à sobrevivência dos seres humanos, talvez até de toda a
biosfera. O notável acúmulo de armamentos nucleares nas décadas de 50, 60 e 70
ocasionou um sério risco de extermínio, algo que nunca tinha sido possível
anteriormente. A multiplicação de usinas nucleares levanta o problema do escape
de radiatividade para o meio ambiente e coloca a questão do que fazer com o
perigoso lixo atômico. O acúmulo de gás carbônico também na atmosfera
representa um risco de catástrofe, pois ocasiona o crescimento do efeito
estufa, que eleva as médias térmicas da maior parte dos climas do planeta.
Muitos outros problemas ambientais
podem ser lembrados. Um deles é a contaminação de alimentos por produtos
químicos nocivos à saúde humana, como agrotóxicos, adubos químicos, hormônios e
medicamentos aplicados comumente ao gado para que ele cresça mais rapidamente
ou não contraia doenças. Podemos acrescentar ainda a crescente poluição dos
oceanos e mares, o avanço da desertificação, o desmatamento acelerado das
últimas grandes reservas florestais originais do planeta (Amazônia, bacia do
rio Congo e Taiga), a extinção irreversível de milhares ou até milhões de
espécies vegetais e animais, etc.
Podemos falar numa consciência
ecológica da humanidade em geral, embora com diferente ritmos - mais avançada
no Norte e mais tardia nos países subdesenvolvidos - , que se iniciou por volta
da década de 70 e cresce a cada ano. Trata-se da consciência de estarmos todos
numa mesma “nave espacial”, o planeta Terra, o único que conhecemos que
possibilitou a existência de uma biosfera. Trata-se ainda da consciência de que
é imperativo para a própria sobrevivência da humanidade modificar o nosso
relacionamento com a natureza. A natureza deixa aos poucos de ser vista como
mero recurso inerte e passa a ser encarada como um conjunto vivo do qual
fazemos parte e com o qual temos que procurar viver em harmonia.
UM PROBLEMA MUNDIAL
Um fato que ficou claro desde os
anos 70 é que o problema ambiental, embora possa apresentar diferenças
nacionais e regionais, é antes de mais nada planetário, global. A longo prazo,
de nada adianta, por exemplo, transferir indústrias poluidoras de uma área (ou
país) para outra, pois do ponto de vista da biosfera nada se altera. Não
podemos esquecer que a atmosfera é uma só, que as águas se interligam (o ciclo
hidrológico), que os ventos e os climas são planetários.
Vamos imaginar que estamos numa
enorme casa, com todas a janelas e portas fechadas, e há uma fogueira num
quarto nobre envenenando o ar. Alguém propõe então transferir a fogueira para
outro quarto, considerado menos nobre. Isso elimina o problema de ar
contaminado? Claro que não. No máximo pode dar a impressão de que por algum
tempo melhorou a situação dos que ocupam o quarto nobre. Todavia, depois de um
certo período (horas ou dias), fica evidente que o ar da casa é um só e que a
poluição num compartimento propaga-se para todo o conjunto. A biosfera, onde se
inclui o ar que respiramos, as águas e todos os ecossistemas, é uma só apesar
de muito maior que essa casa hipotética. O ar, embora exista em grande
quantidade, na realidade é limitado e interligado em todas as áreas. Poderíamos
abrir portas e janelas daquela casa, mas isso não é possível para a biosfera,
para o ar ou as águas do nosso planeta.
Outro aspecto do caráter mundial que
a crise ambiental possui é que praticamente tudo o que ocorre nos demais países
acaba nos afetando. Até algumas décadas atrás era comum a opinião de que
ninguém tem nada a ver com os outros,
cada país pode fazer o que bem entender com o seu território e com as suas
paisagens naturais. Hoje isso começa a mudar. Vai ficando claro que explosões
atômicas russas ou norte-americanas, mesmo realizadas no subsolo ou em áreas
desérticas desses países, acabam mais cedo ou
mais tarde nos contaminando pela propagação da radiação. Também a
poluição dos mares e oceanos (e até dos rios, que afinal desembocam no mar),
mesmo realizada na litoral de algum país, acaba se propagando, atingindo com o
tempo outros países. As enormes queimadas de florestas na África ou na América
do Sul não dizem respeito unicamente aos países que as praticam; elas fazem
diminuir a massa vegetal sobre o planeta ( e as plantas, pela fotossíntese,
contribuem para a renovação do oxigênio do ar) e, o que é mais importante,
liberam enormes quantidades de gás carbônico na atmosfera, fato que acaba por
atingir a todos os seres humanos. Inúmeros outros exemplos poderiam ser
mencionados. Todos eles levam à conclusão de que a questão do meio ambiente é
mundial e é necessário criar formas de proteção da natureza que sejam
planetárias, que não fiquem dependentes somente de interesses locais - e as
vezes mesquinhos - dos governos nacionais.
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