POLÍTICA
E MEIO AMBIENTE
A crise ambiental vem suscitando
mudanças na política. Não apenas as preocupações ecológicas cresceram
enormemente nos debates e nos programas de políticos e de partidos, como também
novas propostas surgiram. Até mais ou menos a década de 60 era o raro partido
político, em qualquer parte do mundo, que tivesse alguma preocupação com a
natureza. Hoje esse tema ganha um certo destaque nos programas, nas promessas
eleitorais, nos discursos e algumas vezes até na ação dos diversos partidos, em
muitas partes do mundo. Multiplicaram-se os ecologistas, as organizações e os
movimentos ecológicos, assim como os partidos denominados verdes que defendem
uma política voltada basicamente para uma nova relação entre a sociedade e a
natureza.
Como infelizmente é comum em nossa
época mercantilizada, também no movimento “verde” há muito oportunismo: às
vezes a defesa do meio ambiente resulta em promoção pessoal e mesmo em altos
ganhos. Ë o caso das empresas que visam apenas ao lucro com a venda de produtos
ditos naturais. Podemos lembrar ainda os constantes shows musicais cuja renda
se destinaria aos indígenas ou aos seringueiros da Amazônia - que em geral até
hoje nunca viram um centavo desses milhões de dólares. Apesar de tudo isso, não
se pode ignorar a renovação que a problemática ambiental ocasionou nas idéias
políticas.
Até alguns anos atrás falava-se em
progresso ou desenvolvimento e aparentemente todo mundo entendia e concordava.
O que provocava maiores polêmicas eram os meios para chegar a isso: para alguns
o caminho era o capitalismo, para outros o socialismo; certas pessoas diziam
que um governo democrático era melhor para se alcançar o progresso, outras
afirmavam que só um regime forte e autoritário poderia colocar ordem na
sociedade e promover o desenvolvimento. Mas o objetivo era basicamente o mesmo:
o crescimento acelerado da economia, a construção de um número cada vez maior
de estradas, hospitais, edifícios, aeroportos e escolas, a fabricação de mais e
mais automóveis, a extensão sem fim dos campos de cultivo. A natureza não
estava em questão. O único problema de fato era a quem esse desenvolvimento
beneficiária: à maioria ou a minoria da população.
Usando uma imagem, podemos dizer que
o progresso era um trem no qual toda a humanidade viajava, embora alguns
estivessem na frente e outros atrás, alguns comodamente sentados e outros de pé.
Para os chamados conservadores (isto é, a “direita”), isso era natural e
inevitável: sempre existiriam os privilegiados
e os desfavorecidos. Para os denominados progressistas ( ou seja, a
“esquerda”), essa situação era intolerável e tornava necessário fazer uma
reformulação para igualar a todos. Mas todas as pessoas concordavam com a idéia
de que o trem deveria continuar no seu caminho, no rumo do “progresso”; havia
até discussões sobre a melhor forma de fazer esse trem andar mais rapidamente.
A grande novidade da crise ambiental
é que ela suscitou a seguinte pergunta: Para onde o trem está indo? E a
resposta parece ser: Para um abismo, para um catástrofe. De fato, ao enaltecer
o progresso durante séculos, imaginava-se que a natureza fosse infinita: poderíamos
continuar usando petróleo, ferro, manganês, carvão, água, urânio, etc. à
vontade, sem problemas. Sempre haveria um novo espaço a ser ocupado, um novo
recurso a ser descoberto e explorado. A natureza, vista como um mero recurso
para a economia, era identificada com o universo, tido como infinito.
Mas hoje sabemos que a natureza que
permite a existência da vida e fornece os bens que utilizamos - a natureza para
os homens, afinal - ocorre somente no planeta Terra, na superfície terrestre. E
ela não é infinita; ao contrário, possui limites que, apesar de amplos, já
começam a ser atingidos pela ação humana. Não há espaço, atmosfera, água,
ferro, petróleo, cobre, etc. para um progresso ilimitado ou infinito. É
necessário portanto repensar o modo de vida, o consumo, a produção voltada
unicamente para o lucro e sem nenhuma preocupação com o futuro da biosfera.
Essa é a grande mensagem que o movimento ecológico trouxe para a vida política.
Vai ficando claro que explosões
atômicas russas ou norte-americanas, mesmo realizadas no subsolo ou em áreas
desérticas desses países, acabam mais cedo ou
mais tarde nos contaminando pela propagação da radiação. Também a
poluição dos mares e oceanos (e até dos rios, que afinal desembocam no mar),
mesmo realizada na litoral de algum país, acaba se propagando, atingindo com o
tempo outros países. As enormes queimadas de florestas na África ou na América
do Sul não dizem respeito unicamente aos países que as praticam; elas fazem
diminuir a massa vegetal sobre o planeta ( e as plantas, pela fotossíntese,
contribuem para a renovação do oxigênio do ar) e, o que é mais importante,
liberam enormes quantidades de gás carbônico na atmosfera, fato que acaba por
atingir a todos os seres humanos. Inúmeros outros exemplos poderiam ser
mencionados. Todos eles levam à conclusão de que a questão do meio ambiente é
mundial e é necessário criar formas de proteção da natureza que sejam
planetárias, que não fiquem dependentes somente de interesses locais - e as
vezes mesquinhos - dos governos nacionais.
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